Jorge Castaneda comenta os resultados decepcionantes da América Latina

O analista político mexicano Jorge G. Castaneda disse que as imperfeições das instituições democráticas estão provocando uma "bagunça" na América Latina. A opinião de Castaneda está no artigo "Os resultados decepcionantes da América Latina", publicado nesta quarta-feira (9/10), no jornal espanhol El Paìs (Madri). Ele enumera as recentes manifestações populares que tomaram as ruas em diversos países, inclusive no Brasil, por melhores serviços públicos e condições de trabalho para categorias profissionais. "Há alguns meses atrás, em 2013, ocorreu em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde centenas de milhares de brasileiros marcharam nas ruas de suas cidades exigindo um transporte público mais barato e mais eficiente, melhor educação e de assistência médica qualidade", destaca o texto.Castaneda destaca que até recentemente alguns países da América Latina eram considerados modelos de realização e promessa econômica, citando o exemplo do Chile, Brasil, Colômbia, México e Peru. Porém, hoje são instituições que demonstram "a falta de legitimidade democrática e de credibilidade, de um grande protesto social, apesar de um progresso social inegável e presidentes experientes que vêem seus índices de aprovação despencar". Porém, ele comenta que o Brasil e a Colômbia caminham bem após a recessão de 2009 e avalia o cenário de desenvolvimento nos outros países, com seus reflexos na economia global.O artigo avalia que estas instituições políticas e legais foram construídas desde as transições para a democracia, no caso do Brasil em meados dos anos 80, mas tornaram-se extremamente insensível às demandas sociais em todos os países citados. "É por isso que, cada um de forma diferente, os presidentes foram surpreendidos pelo protesto. Líderes intuitivos, como no México, Enrique Peña Nieto e Ollanta Humala, no Peru, também foram inexplicavelmente pegos de surpresa", diz o texto.Comentando o cenário no Brasil, Castaneda diz que os megaeventos programados, como a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos de 2016 representarão um teste severo ao quadro social e macroeconômica em que o país viveu desde a eleição para a presidência de Fernando Henrique Cardoso, em 1994. "Programas de combate à pobreza, a abundância de crédito, crescimento exportador de matérias-primas e alta de gastos do governo financiado por uma carga tributária maior, gerou um crescimento econômico notável, mas também uma das expectativas crescentes. Milhões de pessoas saíram da pobreza, mas a infra-estrutura de educação, saúde e empregos bem remunerados não estavam disponíveis para as classes emergentes quando eles aguardavam por essas condições", destaca o texto.Para Castaneda, o problema pode residir nas imperfeições acumuladas da democracia representativa em países onde as condições econômicas e sociais não são ideais. Ele comenta que "enquanto a euforia durou deixando para trás o autoritarismo, essas imperfeições são controláveis. E enquanto durou o crescimento econômico, foram tolerável, mas na ausência deste último e como a memória da transição para a democracia se distanciando, as imperfeições tornaram-se verdadeiros desastres", destaca.

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